sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
domingo, 3 de dezembro de 2017
Arthur Barbosa (compositor, arranjador, violinista e regente) fala sobre arranjo e orquestração!
Nos últimos 10 anos quando tenho me dedicado algumas vezes a lecionar em festivais sobre arranjos musicais orquestrais, muitos alunos e mesmo outras pessoas pela internet sempre me pedem “dicas” de como ser um bom arranjador. Sempre dou algumas que considero essenciais, mas decidi selecionar as mais importantes e postar aqui, pra ver se atinjo a todos estes pedidos de uma só vez. Modestamente ofereço então aqui, sem nenhuma pretensão de deter a verdade absoluta, o que EU considero essencial para ser um bom arranjador orquestral, acho que depois desses quase 30 anos arranjando e estudando algo de bom conseguirei passar.
1- Estude. Parece chover no molhado mas não é, tem muita gente que não estuda o mínimo de harmonia ou orquestração e quer fazer arranjo orquestral, não faça antes de estudar, e muito. Conhecer todos os mecanismos teóricos e também os diferenciais entre os diversos grupos instrumentais como bandas, orquestras de cordas e orquestras sinfônicas é primordial.
2- Conheça (pelo menos na base) cada instrumento destes grupos e sua técnica. Pergunte a instrumentistas, leia material técnico dos instrumentos de orquestra.
3- Conheça orquestração. Leia todos os tratados de instrumentação e orquestração que encontre pela frente, se não encontrar busque. Comece pelos mais antigos ( uma dica de começo : Rimsk Korsakov , mas há muitos outros, pesquise pois alguns não existem em português).
4- Não sobrecarregue os instrumentos que mais conhece pois gerará um desequilíbrio comum, ou seja, se você toca violino não ponha todas as passagens mais difíceis para o(s) violino(s), pelo contrário, esqueça um pouco este instrumento e (até como exercício) dedique-se a explorar os que não conhece.
5- Não vá pelo óbvio. Ou seja, , violinos e flautins tocando agudíssimos ou metais só tocando nos fortes, explore de maneira inteligente o grupo e procure o inusitado.
6- Orquestra Sinfônica e Banda não são só “barulho” e fortíssimos . Quanto maior o grupo, mais explore seus pianíssimos...
7- Nesta onda de explorar pianíssimos, explore também os solos (sem acompanhamento), em algumas ocasiões e bem feitos ficam perfeitos dependendo da obra arranjada. Sinta o que a obra pede, siga seu bom senso e sua musicalidade, arranjo pode ser uma obra prima se bem feito.
8- Use com moderação os uníssonos orquestrais. É como a pessoa que diz muito palavrão, quando quer dizer de verdade ninguém dá bola porque se tornou comum. Os uníssonos orquestrais são de um poder incrível mas têm que ser usados quando realmente queremos afirmar alguma coisa, chamar atenção, se muito usados acabam empobrecendo o arranjo.
9- Pesquise a origem da música a ser arranjada. Veja sobre seu estilo ( ou , caso vá mudar radicalmente de estilo estude o estilo escolhido), sobre sua forma, sobre seu caráter, tenha tudo isto em conta na hora de arranjar.
10- Não desfigure a obra original a ponto de ficar quase irreconhecível. É um erro ( no meu ponto de vista) achar que arranjo tem que se distanciar muito da obra original, ele tem que conversar e respeitar algumas ideias e obviamente mostrar a criatividade do arranjador ao mesmo tempo, é difícil mas quando se encontra este equilíbrio é fantástico. (Sobre compor veja a dica 13)
11- Conheça o estilo da música arranjada. Já falei sobre estilo acima mas vou me ater a este detalhe que é muito importante. Arranjar, por exemplo, um tango e botar nele uma orquestração tipo Broadway pode estragar tudo, respeite o estilo , não os misture a não ser que isso seja proposital e mesmo assim, dependendo, pode parecer de extremo mal gosto. Se não sabe fazer, evite.
12- Escreva sempre como se fosse ser executado numa bela sala de concertos. Muitos arranjos são encomendados para serem exibidos ao ar livre mas não concordo que por este motivo não devam haver dinâmicas, respeito ao solista ( se houver) ou qualquer outra preocupação exigida numa sala de concertos. O motivo é simples: Dá pra sonorizar bem ao ar livre um arranjo que respeite tudo isso, já o contrário, se o arranjo não respeita isto, quando for tocado numa sala de concertos será um desastre.
13- Crie; ou seja, componha obras originais suas. Parece um paradoxo quando digo para respeitar a obra original (não inventar muito) e ao mesmo tempo peço para criar. Arranjo também é criação, mas existe uma obra original por trás... então, se o arranjador tem paralelamente um trabalho de compositor ele estará mais apto para entender esta “dicotomia”, e usar melhor esta ferramenta.
14- Seja inventivo ao criar contracantos. Resolvi isolar este quesito porque também acho que fará um diferencial sem desrespeitar a obra original. Quando se tem uma melodia muito conhecida e seria sacrilégio não respeitá-la à risca, a opção de um contracanto (ou contraponto) criado pelo arranjador é algo criativo que não afeta mas acrescenta à obra original. Claro que respeitando que um contracanto tem que não adquirir ares de protagonismo em relação à melodia conhecida, senão estraga tudo, mais uma vez, bom senso.
15- Menos é mais; muitas vezes. Os “malabarismos” não definem um bom arranjador. Revise e veja o que está sobrando, e se estiver, retire.
16- Conheça a orquestra para a qual está escrevendo. Caso o arranjo tenha sido encomendado, foque na orquestra que encomendou, conheça-a para poder explorar ao máximo suas qualidades e “esconder” seus “defeitos”. Isto faz "A" diferença na hora da execução.
17- Pergunte. Não tenha medo de perguntar a bons músicos amigos sobre seus instrumentos, sobre o que não gostam ou acham incômodo quando aparece numa obra ou arranjo, eu até hoje pergunto sem orgulho nenhum, nunca se vai saber TUDO.
18- Assuma equívocos. Complementando o item anterior, seja humilde em aceitar que erramos. No começo eu não gostava quando alguém dizia que tinha nota errada em um arranjo meu e ainda bem que corrigi isso a tempo, afinal errar é humano, os programas de música não são infalíveis assim como nossa mente, então relaxe quanto a isso.
19- Arranje, ao invés de só transcrever outro arranjo. Isto é comum acontecer e temos que evitar, ou melhor, não fazer mesmo. Muitas vezes já recebi encomendas que me pedem que preserve o pensamento de um arranjo já gravado, e eu sempre peço para, no máximo , respeitar o número de compassos e a formula harmônica, mas é sempre bom criar além disto, porque senão você só estará copiando um arranjo e isto é apropriação indevida de propriedade intelectual, ou seja, roubo.
20- E para finalizar, EXIJA RECONHECIMENTO. Arranjo é uma criação (é verdade que sobre uma obra já criada, mas é) e o arranjador merece sempre ser reconhecido como tal. Merece que seu nome seja colocado em programas, em publicidade ou em qualquer outro meio que divulgue o compositor da obra, inclusive oralmente. Saber da importância de um arranjo é saber que devemos ser valorizados, afinal sempre digo, um arranjo ruim tem o poder de estragar uma música linda assim como um bom arranjo pode enaltecer uma música medíocre. Ter este “poder” é estimulante mas também uma responsabilidade e tanto.
2- Conheça (pelo menos na base) cada instrumento destes grupos e sua técnica. Pergunte a instrumentistas, leia material técnico dos instrumentos de orquestra.
3- Conheça orquestração. Leia todos os tratados de instrumentação e orquestração que encontre pela frente, se não encontrar busque. Comece pelos mais antigos ( uma dica de começo : Rimsk Korsakov , mas há muitos outros, pesquise pois alguns não existem em português).
4- Não sobrecarregue os instrumentos que mais conhece pois gerará um desequilíbrio comum, ou seja, se você toca violino não ponha todas as passagens mais difíceis para o(s) violino(s), pelo contrário, esqueça um pouco este instrumento e (até como exercício) dedique-se a explorar os que não conhece.
5- Não vá pelo óbvio. Ou seja, , violinos e flautins tocando agudíssimos ou metais só tocando nos fortes, explore de maneira inteligente o grupo e procure o inusitado.
6- Orquestra Sinfônica e Banda não são só “barulho” e fortíssimos . Quanto maior o grupo, mais explore seus pianíssimos...
7- Nesta onda de explorar pianíssimos, explore também os solos (sem acompanhamento), em algumas ocasiões e bem feitos ficam perfeitos dependendo da obra arranjada. Sinta o que a obra pede, siga seu bom senso e sua musicalidade, arranjo pode ser uma obra prima se bem feito.
8- Use com moderação os uníssonos orquestrais. É como a pessoa que diz muito palavrão, quando quer dizer de verdade ninguém dá bola porque se tornou comum. Os uníssonos orquestrais são de um poder incrível mas têm que ser usados quando realmente queremos afirmar alguma coisa, chamar atenção, se muito usados acabam empobrecendo o arranjo.
9- Pesquise a origem da música a ser arranjada. Veja sobre seu estilo ( ou , caso vá mudar radicalmente de estilo estude o estilo escolhido), sobre sua forma, sobre seu caráter, tenha tudo isto em conta na hora de arranjar.
10- Não desfigure a obra original a ponto de ficar quase irreconhecível. É um erro ( no meu ponto de vista) achar que arranjo tem que se distanciar muito da obra original, ele tem que conversar e respeitar algumas ideias e obviamente mostrar a criatividade do arranjador ao mesmo tempo, é difícil mas quando se encontra este equilíbrio é fantástico. (Sobre compor veja a dica 13)
11- Conheça o estilo da música arranjada. Já falei sobre estilo acima mas vou me ater a este detalhe que é muito importante. Arranjar, por exemplo, um tango e botar nele uma orquestração tipo Broadway pode estragar tudo, respeite o estilo , não os misture a não ser que isso seja proposital e mesmo assim, dependendo, pode parecer de extremo mal gosto. Se não sabe fazer, evite.
12- Escreva sempre como se fosse ser executado numa bela sala de concertos. Muitos arranjos são encomendados para serem exibidos ao ar livre mas não concordo que por este motivo não devam haver dinâmicas, respeito ao solista ( se houver) ou qualquer outra preocupação exigida numa sala de concertos. O motivo é simples: Dá pra sonorizar bem ao ar livre um arranjo que respeite tudo isso, já o contrário, se o arranjo não respeita isto, quando for tocado numa sala de concertos será um desastre.
13- Crie; ou seja, componha obras originais suas. Parece um paradoxo quando digo para respeitar a obra original (não inventar muito) e ao mesmo tempo peço para criar. Arranjo também é criação, mas existe uma obra original por trás... então, se o arranjador tem paralelamente um trabalho de compositor ele estará mais apto para entender esta “dicotomia”, e usar melhor esta ferramenta.
14- Seja inventivo ao criar contracantos. Resolvi isolar este quesito porque também acho que fará um diferencial sem desrespeitar a obra original. Quando se tem uma melodia muito conhecida e seria sacrilégio não respeitá-la à risca, a opção de um contracanto (ou contraponto) criado pelo arranjador é algo criativo que não afeta mas acrescenta à obra original. Claro que respeitando que um contracanto tem que não adquirir ares de protagonismo em relação à melodia conhecida, senão estraga tudo, mais uma vez, bom senso.
15- Menos é mais; muitas vezes. Os “malabarismos” não definem um bom arranjador. Revise e veja o que está sobrando, e se estiver, retire.
16- Conheça a orquestra para a qual está escrevendo. Caso o arranjo tenha sido encomendado, foque na orquestra que encomendou, conheça-a para poder explorar ao máximo suas qualidades e “esconder” seus “defeitos”. Isto faz "A" diferença na hora da execução.
17- Pergunte. Não tenha medo de perguntar a bons músicos amigos sobre seus instrumentos, sobre o que não gostam ou acham incômodo quando aparece numa obra ou arranjo, eu até hoje pergunto sem orgulho nenhum, nunca se vai saber TUDO.
18- Assuma equívocos. Complementando o item anterior, seja humilde em aceitar que erramos. No começo eu não gostava quando alguém dizia que tinha nota errada em um arranjo meu e ainda bem que corrigi isso a tempo, afinal errar é humano, os programas de música não são infalíveis assim como nossa mente, então relaxe quanto a isso.
19- Arranje, ao invés de só transcrever outro arranjo. Isto é comum acontecer e temos que evitar, ou melhor, não fazer mesmo. Muitas vezes já recebi encomendas que me pedem que preserve o pensamento de um arranjo já gravado, e eu sempre peço para, no máximo , respeitar o número de compassos e a formula harmônica, mas é sempre bom criar além disto, porque senão você só estará copiando um arranjo e isto é apropriação indevida de propriedade intelectual, ou seja, roubo.
20- E para finalizar, EXIJA RECONHECIMENTO. Arranjo é uma criação (é verdade que sobre uma obra já criada, mas é) e o arranjador merece sempre ser reconhecido como tal. Merece que seu nome seja colocado em programas, em publicidade ou em qualquer outro meio que divulgue o compositor da obra, inclusive oralmente. Saber da importância de um arranjo é saber que devemos ser valorizados, afinal sempre digo, um arranjo ruim tem o poder de estragar uma música linda assim como um bom arranjo pode enaltecer uma música medíocre. Ter este “poder” é estimulante mas também uma responsabilidade e tanto.
Arthur Barbosa
Compositor, Arranjador, Violinista e Regente
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